domingo, fevereiro 05, 2017

Resenha: Caim, de José Saramago

A obra de José Saramago caiu de paraquedas na minha programação de leitura. Enquanto lia "Um passeio no jardim da vingança", durante uma conversa mencionei que nunca tinha lido Saramago, minha colega falou de "Caim" e alguns dias depois me trouxe o livro para eu ler.

Eu tinha receio de ler as obras desse autor por conta do filme "Ensaios sobre a cegueira", que achei horrível (não pela produção, mas pela crueldade, não é o tipo de história que gosto), e pela descrição do livro feita por uma pessoa aleatória. A qual me disse que o livro era ainda mais "cru" na verdade e maldade humana. Foi quando decidi que não queria ler este ou qualquer outra obra do autor. Mas, como o livro que fora apresentado agora, "Caim", prometia ser mais leve e até engraçado, aceitei o "convite".



Resenha: Caim, de José Saramago


De modo geral, achei o livro louco e curioso. Pelo estilo do autor, aqueles blocões de texto, sem parágrafo, quase sem pontos, sem exclamações ou interrogações. Fora isso, a forma como os diálogos acontecem é confuso, e a temática bíblica, assim como a versão portuguesa da obra, só pioraram a experiência. No twitter alguém me disse que deveria ler imaginando que uma pessoa mais velha estava me contando um "causo", que essa era a proposta do estilo. Parece mesmo, mas isso não deixou as coisas mais fáceis.

A primeira impressão que se tem é que alguma coisa ali não está certa. Os primeiros capítulos foram difíceis de acompanhar, a leitura não fluía. Depois que me acostumei com o estilo, o tema bíblico me incomodou. Não tenho paciência, mesmo sabendo o propósito do autor de contestar e satirizar aquelas estórias, não tinha muita vontade de seguir com a leitura. Como não sou de abandonar um livro tão facilmente, resisti e li até o final.


Sobre a história em "Caim"


Como mencionado antes, a obra tem um propósito de contestar os "fatos" citados na bíblia mostrando as incoerências de um criador, todo poderoso, provando que se ele existe de misericordioso não tem é nada. Que na verdade ele é rancoroso, invejoso, caprichoso, malévolo e por aí vai. Propósito interessante, mas que dentro do estilo e abordagem escolhida, achei cansativo.

Enquanto a história girava em torno de Adão e Eva eu fiquei muito tentada a desistir. Depois de Caim as coisas parecem que vão melhorar, mas as histórias vão se passando lentamente e o estilo de diálogos separados somente por vírgulas exigem um esforço de entender quem está dizendo, se é pergunta ou o quê, que tira um pouco o envolvimento com a história.

Um ponto positivo é que, nos momentos em que a leitura flui melhor, em alguns trechos uma pessoa que como eu concorda que as estórias sobre deos são uma besteirada sem fim, é engraçado imaginar aquelas situações absurdas, os desfechos criados por Saramago, a impertinência de Caim, e como se sentiria um crente lendo tudo aquilo.

Se recomendo a leitura? Sim. Pelo estilo, principalmente. Por mais que eu não tenha achado a leitura difícil/chata, gostei de conhecer. E o livro é pequeno, 181 páginas, acaba rápido.


Sobre o autor

Saramago é um autor português muito importante, e por isso também vale a leitura. Ainda que "Caim" não tenha me impressionado tanto, fui ler sobre a vida dele e fiquei muito bem impressionada com a sua história. Ele foi firme nas suas crenças e tem argumentos muito bem construídos sobre a influência da igreja na política. Gostei muito da opinião dele sobre a atuação do Estado de Israel contra os palestinos e a coragem dele de tocar num tema tão delicado como o Holocausto para fazer as pessoas refletirem sobre como os Judeus, apesar de tudo o que passaram, massacram outro povo nos dias de hoje e ainda sentem-se injustiçados pelo que lhes aconteceu no passado.

Enfim, não vou entrar na discussão, mas é bem interessante. E se precisei "sobreviver" a "Caim" pra buscar mais informações e refletir sobre isso, bem, certamente já valeu a leitura.

=P

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