sexta-feira, maio 27, 2022

Resenha de "Babel-17" e "Estrela Imperial", de Samuel R. Delany

 Sabe o que é? Ficção científica nas ciências humanas é emocionante. "Babel-17", de Samuel R. Delany, é diferente de tudo que estamos acostumados a ler. O autor foi ousado e acredito que pague o preço ficando meio "mal falado". Já explico!




Se você buscar resenhas, vai encontrar muita gente que não gostou ou considerou o livro muito difícil e o abandonou… É um texto que exige atenção e envolvimento do leitor. Às vezes, eu voltava algumas páginas para verificar se estava entendendo o que lia. Mas, a leitura atenta é o bastante, e para quem persiste, muito prazerosa.


Babel-17, além de um sci-fizão (ficção científica de qualidade inigualável, leia mais aqui) com viagens interestelares, uma guerra entre mundos de diferentes setores da galáxia e um mix de civilizações, acompanhamos o trabalho da Dra. Wong que precisa “decodificar” um idioma, que os caras nem sabiam que era um idioma até ela lhes dizer isso.



Uma protagonista per-fei-ta!


Wong é uma protagonista incrível. É a especialista que todos procuram quando ninguém mais consegue resolver um puzzle. Além disso, devido a sua facilidade com idiomas, é uma excelente líder no comando de tripulações, o que descobrimos quando ela reúne os profissionais de que precisa para sair em busca de respostas em sua “própria” nave.




O ponto central da história é o trabalho de decodificar o Babel-17. Um idioma que perturba Wong, não apenas pela dificuldade. É aqui que o autor ousou mais. Ele coloca o leitor para perceber as nuances desses códigos junto com a protagonista. O sistema de escrita é alterado, ela vai experimentando, estranhando e descobrindo Babel-17 e é como se estivéssemos dentro do seu cérebro.


É confuso? Sim. Mas é brilhante ao mesmo tempo. Eu nunca tinha lido nada igual e achei perfeito. Quando o plot se aproxima e a gente entende o que estava acontecendo, dá vontade de voltar e ler o livro todo de novo para “pescar” alguma outra pista que talvez tenhamos deixado para trás.


Esse é o tipo de criação que mais me agrada na literatura fantástica. O autor conseguiu criar algo único, que parece complexo por ser inovador, sim, ele inventa uma forma de narrativa que mexe com as nossas mentes! 


E ele não para por aí. O livro tem “dois lados” literalmente. Na outra ponta temos “Estrela Imperial”.



Estrela imperial é uma loucura! 🤯


Samuel R. Delany fez algo tão inusitado nesse livro, que fico sem saber por onde começar. Principalmente quando quero falar de "Estrela imperial", separado do “Babel-17”, embora eles nos sejam entregues “juntos”. Já adianto que há uma conexão entre eles. O livro “Estrela Imperial” é citado pelos personagens, como literatura mesmo.



Enredo de “Estrela Imperial”


Cometa Jo vive numa região afastada da galáxia. O seu planeta é responsável pela produção de jhup. Uma commodity (não achei um sinônimo melhor), que serve de nada no planeta dele, mas que é usada como liga na fabricação de plástico galáxia afora. A relação com esse produto é tão estranha, que usam o nome como "palavrão". É mais ou menos como a gente deveria falar de “soja” no Brasil.



Cometa é descrito como "simplexo". Nesse universo existem os simplexos, complexos e multiplexos. Que são, aparentemente, níveis de reflexão e profundidade de consciência a que uma pessoa pode chegar. A explicação é dada por exemplos ao longo da história, e vai ficando mais clara para o leitor.


A demora no entendimento me fez refletir muito, será que eu sou simplexa por isso? Mas, daí descobri que fazer perguntas já é sinal de complexo... A coisa segue mais ou menos essa linha.


A jornada do personagem começa quando ele recebe uma "gema" que carrega uma mensagem a ser entregue na "Estrela imperial", o centro de poder da galáxia. As pessoas que ele encontra a partir dali vão dando a noção de que ele é ingênuo demais. Inclusive, uma dessas pessoas explica que ao sair do planeta, ele nunca mais será o mesmo, que precisa avaliar bem essa decisão.


E esse tom de "fábula" me deixou um pouco com preguiça da história. Ele parece um personagem da Disney, vencendo preconceitos, se entendendo como gente, querendo mostrar seu valor. Mas não é tão simples assim. 


A história tem um fundo sombrio, embora alguns personagens sejam cômicos. Personagens esquisitos, uma situação de escravidão muito tensa no meio da história. Uma missão multiplexa, eu diria. Que vão fazendo Jo amadurecer ao longo da história, a sua transformação vai sendo mostrada gradativamente, é muito bonito.


Apesar disso, nada parece fazer sentido até que chega o final e os acontecimentos nos remetem a cada etapa lá do início, fechando um ciclo temporal e nos dando essa dimensão da evolução do personagem. 🤯



É o tipo de livro que, quando terminamos de ler, a vontade é de começar tudo de novo, na mesma hora. É incrível!


A junção dessas duas histórias, igualmente futuristas e disruptivas em termos de narrativa é tão genial (sem exagero), que não sei como Samuel R Delany não é mais conhecido. Saiba mais sobre o autor clicando aqui.




Peguei esse livro pela parceria com a Editora Morro Branco. Quero inclusive agradecer pela sugestão tão acertada. Talvez ele não fosse minha primeira escolha, mas foi fantástico começar esse novo ciclo com essa leitura. 




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