É exatamente assim que eu me sinto quando paro para ler e re-ler o que escrevo nos blogs ou na minha coleção de TXTs. Seria isso coerência da minha parte? Hum... Eu diria que é mais provável que seja "previsível" dada as minhas tendências identificatórias. É isso o que a faculdade faz com a gente, faz com que pensemos em coisas que nunca havíamos parado para pensar e em como elas fazem sentido, quando analisadas com uma lupa. Lupa essa que nos ajuda inclusive a perceber que ninguém é coerente, mas que tenta fazer parecer que é para construir a sua própria identidade, para se tornar indivíduo e diferenciar-se do outro. Todo esse papo comunicação e teorias vem impregnando o meu blog quando resolvo escrever, mas, paciência, esse é o meu mundo!
Outro dia quando voltava da aula comecei a pensar nessas questões de coerência, de identidade, e da loucura que é quando a comunicação se apropria de palavras de uso comum para explicar suas teorias. Ou seria o contrário: de como chegam ao uso comum palavras tão bem definidas e estudadas por filósofos, antropólogos e comunicadores. O risco que se corre é que de tanto ser usada pelo "público em geral", comunicadores se contaminem por esses usos corriqueiros e se esqueçam do que exatamente aquela palavra significa, o que ela quer dizer, para que ela existe.
Um exemplo muito claro é a noção de "simpático" descrita por Foucault. Hoje o senso comum é que simpática é aquela pessoa que é "amiga" (ou faz parecer que é) de todos, quando na verdade a simpatia é uma identificação, "uma concordância com". Adoro esses detalhes que para a maioria é insignificante. Essa minha "simpatia" por essas chatices me faz lembrar de duas coisas:
Um texto antigo aqui do blog em que reproduzi a fala de um professor, ele disse: “é um detalhe, ninharia, mas existe, e é pra isso que estamos aqui, pra isso que serve um cientista, pra ser chato com essas coisas” (Leia mais...) e também de um post no Twitter do @RaffaJesus: "O Jornalismo é a arte de brincar com as palavras. Se você sabe brincar com elas, se diverte; Se ñ sabe, se machuca!"
Essa história toda me fez lembrar também de uma brincadeira que fazia com primos, irmãs e amigos quando era criança. Sentávamos todos para fazer charadas uns para os outros. Lá pelas tantas, nosso repertório inédito se esgotava, sem internet, apelávamos para aquelas clássicas e manjadas, cujas respostas todos já sabiam. Não demorava muito para que aparecesse ela, a mais clichê de todas as charadas: "Por que a galinha atravessou a rua?". Era uma algazarra! Todos riam e diziam "Aaah, essa é manjada", ou "essa todo mundo sabe" e assim por diante. Passados alguns anos, preocupei-me por não conseguir mais lembrar porque diabos a galinha queria atravessar a rua. E até hoje eu tenho dúvidas se a resposta é "para chegar do outro lado".
Assim são os clichês reutilizados na comunicação, regatamos termos cristalizados que num outro contexto já não fazem o mesmo sentido e os usamos demasiadamente sem mais questioná-los, sem refletir se ainda dizem o que de fato estamos tentando comunicar com aquela mensagem. É curioso ver como vamos reproduzindo essas idéias clássicas, partindo de pressupostos não tão bem analisados. É o que me faz pensar se não estamos pulando etapas, deixando significados e significações importantes de lado, subentendendo que já estão claras, que já as dominamos, como o exemplo da galinha.
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Usar um clichê para contar piadas é uma coisa, agora usar em jornalismo ou comunicação é falta de criatividade. renovação é a palavra certa para comunicadores. nos acomodamos em usar o que todos conhecem para facilitar e amanhã ou depois quando perde o sentido, não temos nada de novo, pois não nos esforçamos
ResponderExcluirbelo questionamento
Eu sou como você, gosto dos detalhes. E o significado de cada palavra é realmente algo incrível. Eu fico me perguntando: quem chegou primeiro? A palavra ou o seu significado? Como aquela historinha de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
ResponderExcluirQue engraçado, a galinha sempre está no meio dessas questões profundas! rs
Beijos!