Reação de diferentes públicos faz a empresa desistir da coleção Pelemania, mas as críticas continual. O caso serve como alerta para outras empresas e reacende uma discussão que hoje se propaga mais facilmente com as ações nas redes sociais – a ordem agora é outra e o mérito é da web 2.0.
Tenho acompanhado o caso
#Arezzo e já li de tudo. Estava sentindo a necessidade de escrever sobre o assunto antes mesmo de ele entrar para o Trending Topics no Twitter. Tive mais vontade ainda depois de ler sobre a retratação da empresa. Além de nitidamente ressentida, ela não abafou o caso como pretendia, porque disse desistir do uso de pele de raposa, mas não a dos coelhos. A imagem da empresa está manchada de sangue, a comunidade protetora dos animais ainda não conseguiu exatamente o que queria. Mas a Arezzo, mesmo para quem não é engajado com a proteção animal, perdeu muito.
Situação:
A Arezzo, marca antes referência em calçados e acessórios femininos, lança uma coleção chamada "Pelemania", na quinta-feira (14/04). A linha possui peles exóticas em sua confecção, usa a pele de raposas e de coelhos para casacos, coletes e para decorar calçados, bolsas e echarpes.
A comunidade protetora dos animais se revoltou e começou a agir nas redes sociais. Pelo Twitter muitas pessoas questionavam a Arezzo e pediam explicações. A empresa se calou, o que gerou ainda mais polêmica. A fanpage da marca no
Facebook reuniu descontentes que passaram a usar o espaço para reclamar e expressar sua opinião. Os comentários, em princípio, foram apagados. Imagens da logo e da coleção manchadas de sangue começaram a circular na internet.
Na segunda, 18/04, ativistas e defensores dos animais levaram o tema para o topo das discussões no Twitter e em outras redes, como o Facebook, gerando uma crise com o nome da marca e polemizando a sua nova coleção.
Já não havia mais como fazer de conta que não era com ela, a empresa teve de se retratar. Um
comunicado ressentido e não muito convincente foi publicado e logo estava em diversos sites e blogs, gerando novos comentários nas redes sociais. Em uma
entrevista, o diretor da empresa, Anderson Birman, comentou o caso e afirmou que a marca não voltará a utilizar peles em seus produtos.
Entretanto, nessa mesma entrevista, explicou que as peles de raposa seriam recolhidas das lojas, mas que as de coelho não. Uma explicação para isso seria o fato de Coelhos servirem como alimento ao homem, o que justificaria o uso da sua pele em roupas e calçados.
Duas observações sobre a entrevista: a empresa dizer que já receberam reclamações de clientes que queriam comprar os produtos e, "pobrezinhas" (nota do autor), não vão poder; e também que foram apenas 300 peças com pele de raposa.
Dados: para um casaco de tamanho médio, cerca de
30 raposas são mortas. Como estão de matemática? 30 x 300 = 9.000?
Outro argumento foi o de que as raposas seriam de criadouros legalizados, e não da natureza, não representando assim uma ameaça a espécie ou agressão ao meio ambiente. Ou seja, se criarmos um ser vivo numa jaula com o único objetivo de vender a pele dele depois, não tem problema? E porque usar pele de animal em roupas em pleno século XXI?
Dados: para que a pele não seja danificada os animais são mortos por gás, envenenamento por estriquinina, têm seus pescoços quebrados, são mortos a pauladas ou é usada a eletrocussão anal, onde são colocados grampos nas orelhas do animal, e um bastão metálico no ânus por onde recebem uma descarga elétrica.
Agravante: esses procedimentos são feitos sem muito cuidado, aplicados em massa, e muitas vezes o animal apenas desmaia, e acorda quando a sua pele está sendo arrancada.
E tem mais: de onde vêm os animais para reprodução em cativeiros? Os animais são retirados de seus habitats, de seus filhotes, ou de seus pais. São presos por armadilhas. Ficam presos por dias, com fome, sede e desesperados, até que os caçadores os encontrem.
E mais: no desespero, muitos arrancam os próprios membros para escapar. 1 a cada 4 conseguem fugir, mas acabam morrendo pelos ferimentos causados. Os que são apreendidos vão para gaiolas com outros tantos. Na espera para morrer, muitos enlouquecem.
Resumindo: “Toda peça que use pele representa intenso sofrimento de várias dúzias de animais” - bem mencionado no
Pet Vale, portanto, não há justificativa para essa matança em nome da vaidade humana.
Não abordei aqui a questão do vegetarianismo, do espiritismo e tantas outras óticas que condenariam, da mesma forma, a Arezzo e a sua infeliz escolha de inovar resgatando uma prática antiga, dos tempos das cavernas. Desatualizada porque não precisamos mais da pele dos animais para nos proteger, assim como já não estamos mais sozinhos assistindo grandes corporações fazerem o que quiserem, sem poder nos expressar.
Viva a web e a revolução provocada na comunicação
Com o uso das redes sociais não conseguimos tudo o que queremos, não podemos mudar o mundo. Pressionamos o governo, mas não temos força para mudá-lo, por exemplo. Mas, quando o nome de uma empresa está na berlinda, fica fácil desmoralizá-la, e atingi-la. Afinal, a imagem positiva garante vendas. No caso #FAIL da Arezzo, a própria marca se desmoralizou perante os clientes. O que fizemos foi apenas reagir a uma agressão, expressar nosso descontentamento, para muitos, a decepção com a marca.
Como uma empresa quer ser reconhecida como moderna e inovadora esquece de consultar o público, como pode ser tão sem noção e lançar acessórios manchados de sangue, exaltando a prática como uma "mania" e achar que isso vai funcionar?
Detalhe: hoje, 21 de abril, foi publicada uma imagem na internet que mostra uma bolsa de pele de raposa a venda numa loja da Arezzo. E aí? Essa briga não está nem perto de terminar.
Como pode algumas pessoas ainda acreditarem que vale a pena maltratar animais para fins tão fúteis?
Encaremos a realidade: hoje uma criança foi deixada no lixo! Passou da hora de revermos certos conceitos e valores em nossa sociedade.
Este texto foi construído com referência de outros blogs e sites que trataram/tratam desse assunto. Seguem os links: