segunda-feira, agosto 21, 2017

Magnetite, confira o faixa a faixa do álbum novo da Banda Scalene!

A Banda Scalene acaba de lançar o novo álbum, Magnetite, e como não poderia deixar de ser, fiz um faixa a faixa comentando cada uma das músicas.



Antes do faixa a faixa, alguns comentários gerais: 


A Scalene tem como característica o preciosismo com conceito, imagem, não somente com o som. A comunicação deles é muito boa. E isso reflete muito o que fazem nos álbuns. Com Magnetite não foi diferente. O álbum está visualmente lindo.

Quanto a qualidade musical, seguem se reinventando. As músicas (todas) tem muito da Scalene. O peso das guitarras e das gritarias de Real/Surreal estão mais presentes, e muito da sutileza do Éter (primeiro e segundo álbuns da banda), com um toque Magnetite que surpreende. Se tiver que classificar de alguma forma esse novo álbum, diria que ele tem uma roupagem nova, muito brasileira. Que traz referências de onde eles cresceram a vivem, do que ouvem, do que gostam, de um modo muito original.

As letras maduras, bem pensadas, impecáveis, agora têm um peso maior em críticas, provocam reflexões, algumas incomodam. E qual é a função de uma banda de rock se não causar esse desconforto? A Scalene faz isso em Magnetite sem ser óbvia, com personalidade, com força. Muitas mensagens sendo transmitidas em melodia poética. Ao longo do faixa a faixa vocês vão poder identificar as minhas preferidas.



Faixa a faixa do álbum Magnetite


extremos pueris

A música que abre o álbum apresenta muito bem o que podemos esperar das 11 músicas que se seguirão. Ela é forte, intensa, sensível, delicada. Características que resumem o trabalho da Scalene de um modo geral.


ponta do anzol

Eu não fiz esse faixa a faixa ouvindo as músicas na ordem, e "ponta do anzol" ficou por último. Já disse tanto sobre tudo e as músicas do álbum são tão interconectadas em conceito e qualidade de letra e som que fica difícil não ser repetitiva. A música é diferente, tem um pouco de eletrônico, baixo muito marcado, e uns arranjos novos se comparados com os outros álbuns. É boa!


cartão postal

Ao som de um quase mantra que diz "vou, até onde eu aguentar", "cartão postal" me tocou. A letra tem uma harmonia com a música, elas vão se intensificando na medida. A melodia vai dançando nas ideias. Eu amo esse tipo de música, melódica sem ser grudenta, surpreendente a cada nota. E a guitarra característica da Scalene nos momentos mais delicados. Sensacional!


esc (caverna digital)

Essa tem a brasilidade aflorada, lembrando sei lá, chico Science. Um baixo que nos lembra o toque do berimbau, aquela guitarra que não sei explicar (porque não sou musicista hahaha). E esse tema da caverna digital, minha gente, casamento perfeito. "Ah se eu pudesse, eu tiraria você de mim", que letra, que melodia gostosa!


distopia

Essa a gente deveria imprimir em cartazes, fazer camisetas, enviar por email, postar no Facebook. Musicalmente Scalene, letra de crítica social. Que banda maravilhosa (tô surtando nesse faixa a faixa porque não tem outro jeito!) Olha essa letra:

Homens de terno,
podres por dentro,
e a bíblia na mão,
pregam o ódio
e a intolerância,
a cada sermão, cada sermão
usam do medo
ingenuidades
roubam de quem
pouco já tem
Falam de entrega
de sacrifícios
ônus não tem
$ó o que lhes convém
Quando alguém vai ter o peito e coragem de se posicionar do jeito?
Que o absurdo fere,
que esse crime pede,
não é como se fosse
um abuso novo,
autoridade não
se faz com oração.

Sabe... Não precisa dizer mais nada.


frenesi

Essa me parece algo experimental. É diferente de tudo e tem uns arranjos curiosos. Parece uma brincadeira de estúdio que foi levado a sério. Uma reinvenção. Ouvi-la em alto e bom som é gratificante.


maré

Uma calmaria em meio a tempestade. Quase todas as músicas são uma loucura, não necessaria pesadas, mas intensas. Maré distoa das demais. Tem a mesma pegada experimental de "frenesi", brasilidade e uma dose de calmante. É linda, sensível.


fragmento 

Rock 'n roll nacional. Não, não estou dizendo que se trata de rock anos 80 (re)conhecido como rock nacional. Estou falando de musicalidade brasileira pura em forma de Rock 'n roll. O peso na guitarra é o que nos faz lembrar que ainda é Scalene. Scalene na veia.


trilha

Uma pegada de blues e guitarras distorcidas, um ritmo meio perturbador. Os vocais sombrios completam a estranheza e beleza dessa música. A transição quase natural dessa faixa para o "Velho lobo" lembrou-me muito do que acontece no "Real/Surreal". É muito legal para quem tem o hábito de ouvir um álbum inteiro de uma vez, na ordem certa.


velho lobo

A continuidade de "trilha" eleva essa canção. Ela vem de sombria para uma intensidade que vai ganhando espaço gradativamente que nos envolve. Lembra um pouco, mas muito pouco, só no início, a Scalene do Éter. Tem uma vibe eletrônica, uns trechos diferentes que brinca com nossos sentidos. A melodia mais leve agrada.


heteronímia

Ouvindo essa música eu fiquei pensando em como a Scalene faz isso com a cabeça da gente. Não há grande diferença das músicas do primeiro álbum para esse. Mas é notável o amadurecimento dos músicos apesar disso. Parabéns especial a esse baixista criativo/maluco/perfeccionista. E esse refrão "quero resistência sem dor". Que letra!


phi - A minha preferida até aqui

Os toques agudos no piano, os solos de guitarra ao fundo, as batidas graves intensificando-se junto com a melodia das palavras. E que palavras. A letra impecável. Eu poderia dizer "inacreditável" mas a Banda Scalene sempre surpreende nesse quesito. Não é novidade, superam-se a cada álbum, a cada canção.

E com "phi" o álbum termina com gostinho de quero mais.


O álbum pode ser comprado online aqui. Faça como eu e compre, mesmo que não tenha onde ouvir, porque a banda merece! Um trabalho lindo como esse precisa ser incentivado!

E vocês podem ouvir no Scalenetube, onde eles já postaram todas os "Lyric Vídeos".

E, claro, para ouvir nas plataformas digitais: Spotify | Deezer | iTunes
Download no iTunes


E aqui, a minha favorita. O que são esses toques no piano? "perfeita simetria"




E eu já estou sonhando com a possibilidade de ter esse disco em vinil. #oremos



Pra ler mais posts relacionados, clique em #banda scalene
=P

quarta-feira, agosto 16, 2017

Resenha: Mulheres que não sabem chorar, por Lilian Farias

Essa resenha vai ser difícil, porque "Mulheres que não sabem chorar" escrito pela autora Lilian Farias levanta uma série de questões. Não é o tipo de leitura que eu costumo fazer, porque evito os temas fortes. Mas, foi um presente da autora, e fiz questão de ler, analisar, e vir aqui contar para vocês as minhas impressões.



Resenha: Mulheres que não sabem chorar


Como o nome indica, ele fala de mulheres. Histórias de pessoas. Então, esperem realidade. Não posso dizer que é um "choque de realidade" porque quem assiste TV ou lê jornal ou conversa com outras pessoas, certamente já se deparou com pelo menos uma das tragédias contadas no livro.

Duas personagens vão contando suas histórias de vida paralelamente. E ao longo da narrativa, vamos tendo contato com os dramas delas e das pessoas que as cercam. Dramas familiares, opressão social. As mulheres tem as suas vidas devastadas simplesmente por serem mulheres. É uma realidade triste.

Por ser mulher, é claro que esse tema não é novo para mim. Essa discussão está sempre rondando a minha mente. E acredito que a da maioria das mulheres. E a gente fica nessa paranoia de achar que o mundo pensa com a gente e se depara com uma declaração assim: "Pelo menos os anos 50 a vida já era melhor para as mulheres". A resposta para a pessoa em questão foi óbvia: meu amor, ser mulher HOJE ainda é muito difícil.

O livro da Lilian é sensível a causa e abusa nas cenas explícitas de violência e preconceito. E há quem pense que esse tema não é "mais" necessário, que tudo é exagero. E no livro ela fala muitas vezes: tentaram nos calar antes, vão continuar tentando nos calar. A violência sofrida pela mulher é tratada com desprezo pela sociedade, como se a culpa fosse da mulher. Aquela pessoa que sofre, que é humilhada, ela é a culpada, "No mínimo não presta", "fez por merecer".

O livro também fala de amor, e de como pessoas sequeladas psicologicamente podem destruírem-se apesar do amor. E como as pessoas podem superar todo o drama pessoal e ter uma vida. E assim é a narrativa, vai nos provocando e nos instigando a pensar mais, a refletir.

É inegável que ela é boa de juramentos, pois só agora, depois da morte da mãe, que conseguiu amar quem nasceu para amar: outra mulher.

E tem mais essa, as mulheres dessa trama descobrem o amor entre mulheres. Algumas mais cedo, outras mais tarde. E além de tudo, precisam lidar com o preconceito, com seus medos e toda questão envolvida nesse tema. Sempre que penso sobre isso, tento imaginar como seria viver sem ser eu mesma. Se me fosse tirado o direito de ser o que eu sou. É muita crueldade querer regular outra pessoa por ela não ser normatizada nessa sociedade doente. "Apenas".

A leitura flui, os parágrafos são curtos e o texto é leve, de fácil compreensão. Li em poucos dias. Mas, não é um texto fácil de digerir. Alguns capítulos foram um soco no estômago e precisei dar um tempo. É pesado, e quando penso no todo, acredito que não poderia ser diferente. Acho que a obra tem um papel importante, poucos se atrevem a tocar nesse assunto. E não podemos deixar assim. Que bom que a Lilian teve a coragem e a iniciativa de colocar essa história no papel.


Sobre a autora:


Lilian Farias é autora dos livros O Céu Está Logo Ali e Mulheres Que Não Sabem Chorar. Em seus livros ela aborda temas como sexualidade, liberdade, amor, preconceito, homossexualidade, violência sexual e alcoolismo. A escritora mantém um blog literário e está sempre bem informada sobre questões sociais que acontecem em nosso país. É defensora da tese de que todos são diferentes e merecem ser tratados com equidade. Ela adora escrever sobre temas que incomodam e diz não ter medo do preconceito.






Sinopse:


A vida de Marisa é regida pelo controle. Seja à frente do seu trabalho ou da vida dos filhos, ela é racional, mantendo-se sempre fria, um ser à parte das banalidades, cuja única preocupação é ser um exemplo. Olga é sua antítese. Sentimentos à flor da pele, dor flagelando a carne, pensamentos embaçados pelo esquecimento proporcionado pelo álcool. Sozinha, preocupa-se em apenas ser, em um mundo cercado por fatos que não reconhece mais como seus. Enquanto isso, Ana e Verônica esbarram com o acaso. Duas senhoras solitárias, vizinhas e antagônicas. Será que um dia alguém acharia que poderiam viver em paz? Mais ainda, será que poderiam se apaixonar? Duas jovens livres e independentes. O que as impede de ficar juntas? Mulheres que não sabem chorar é mais que uma história de amor entre iguais. Junto a estas personagens tão humanas, o leitor vê-se despido dos preconceitos, pudores e medos. Ora crua, ora poética, a trama nos obriga a enfrentar o espelho e se ver como nunca imaginou antes. Pois ao mergulhar neste romance, o que fará você
pensar não é a forma como vê o amor, mas sim a forma com que ele se volta em sua direção. Esteja preparado.

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quarta-feira, agosto 02, 2017

Resenha: Neuromancer, por William Gibson

Mais do que uma resenha, vou neste post vou falar um pouco sobre o que esperar de Neuromancer, quem é William Gibson e o que é a trilogia do Sprawl.




O que esperar de Neuromancer


A obra de William Gibson praticamente inaugura o termo Cyberpunk, um sub gênero de Ficção Científica, quando o termo era bastante desconhecido, a ponto de nem o autor saber se era esse gênero mesmo que ele tinha escrito. Publicado em 1984, o livro tem uma linguagem suja, futurista e cheia de termos e jargões próprios. 

É um desafio e tanto imaginar todo o universo que ele constroi ao longo da história. Tudo é novo, diferente e tem nomes próprios. Nem a organização das cidades do mundo são as mesmas, o dinheiro quase não existe fisicamente. E se isso é difícil de conceber para quem vive em 2017, imagine o que foi o lançamento desse livro nos anos 80? Isso é o que torna essa obra única!

Então, a primeira coisa que se precisa entender ao mergulhar nesse universo, é que o início vai ser meio truncado até ajustar as ideias e passar a compreende-lo melhor. Vale dizer que não se trata de um livro mal escrito, mas escrito em de uma forma diferente, sobre coisas com as quais não estamos habituados. E quem gosta de ficção científica (raiz), não tem como não gostar.


Como cheguei ao Neuromancer


A primeira notícia que tive do livro foi nas aulas de Cibercultura na faculdade. Sempre achei que aquelas aulas não tinham servido para muita coisa. Mas, no fim, o professor falava tanto desse livro, de cyber punk e da questão da libertação do corpo e do homem pós-moderno, que algum conhecimento despertou minha curiosidade e me fez (anos mais tarde) recuperar essa obra. Se tivesse lido naquela época talvez as aulas do Rüdiger tivessem sido melhor aproveitadas.



Quem é William Gibson?


Gibson cunhou o termo "ciberespaço", em seu conto Burning Chrome e posteriormente popularizou o conceito em seu romance de estréia e obra mais conhecida, Neuromancer, que é o primeiro volume da aclamada trilogia Sprawl.

O autor idealizou o que conhecemos como ciberespaço como conhecemos hoje (isso explica porque conheci ele em uma disciplina de cibercultura), idealizou ambientes virtuais utilizados em games, e seus conceitos e ideias influenciaram diretamente a trilogia cinematográfica Matrix, de autoria das Irmãs Wachowski. E este é outro bom motivo para ler Neuromancer: quem gosta de Matrix, precisa ler.


O que é o Sprawl?


Sprawl é nome dado à megacidade composta pela junção entre todo o terreno urbano existente entre Boston e Atlanta, incluindo Nova York e Washington, nos Estados Unidos. Por isso, também é conhecido pelo nome de BAMA (Boston-Atlanta Metropolitan Axis, ou seja, Eixo Metropolitano Boston-Atlanta). 

Para terem uma ideia essa informação está no glossário que encontrei nas últimas páginas do Neuromancer. Além dessa palavra, várias outras estão nesse glossário para facilitar/assustar os leitores.

A trilogia do Sprawl é, por tanto, o nome dado ao conjunto de três livros: Neuromancer, Count Zero e Monalisa Overdrive. Histórias diferentes (até onde li de Count Zero) independentes, todas acontecendo no universo criado por Gibson, o Sprawl.


E, finalmente a resenha de Neuromancer


Quando li "Admirável mundo novo", por Aldous Huxley, esperava me surpreender como fui surpreendida em Neuromancer. E agora posso explicar melhor porque daquela resenha amarga escrita antes (leia aqui). A obra escrita muito tempo atrás, sem noção do que viria a se tornar o mundo da ficção científica pode se tornar obsoleta. Como acredito que aconteceu em "Admirável mundo novo". Tudo é espetacular, mas as invenções de lá pra cá são tão mais surpreendentes, que ficamos com a análise dos personagens, do enredo, e isso é fraco. 

Em Neuromancer, também uma distopia futurista, o mundo é outro, bem construído, descrito em detalhes (muitos detalhes). Mistura coisas que temos hoje com outras muito ultrapassadas, que até poderiam não fazer sentido. Mas, estamos observando esse universo sob a perspectiva de quem está à margem da sociedade, roubando tecnologia (na maioria das vezes). Isso explica alguns equipamentos e improvisos. Sempre se tem a possibilidade de do lado rico a realidade ser diferente. E de fato é. Estou vendo isso na sequência, Count Zero.

O enredo é até simples: Cage, um "cowboy" do ciberespaço e hacker da Matrix que, após tentar enganar seus patrões, é demitido e afastado da vida de cowboy para sempre. Como punição pelo seus atos a empresa injeta nele toxinas que o impedem de acessar o mundo virtual. Ele vive em Tóquio numa vida de merda, cometendo pequenos crimes para sobreviver, até que se envolve numa empreitada esquisita e perigosa.

A forma como William Gibson conta essa história é bastante envolvente. Narrada em 3ª pessoa, cheia de diálogos e descrições bastante realistas (algumas parnasinistas até) que nos aproxima dos fatos dando vida aos personagens. Há bastante descrições dos cenários, o que nos permite "ver" os ambientes, a experiência de imersão é muito boa. Quando terminou eu queria ler tudo de novo.

É bom avisar que o livro tem um milhão de personagens, todos bem caracterizados, e isso bagunçou um pouco as minhas ideias. Eu tenho dificuldade para gravar nomes e, como o texto já trás uma infinidade de palavras novas, muitas vezes eu me perdi. Algumas partes eu tive que ler mais de uma vez, às vezes voltava no início para conferir um nome. 

O ambiente virtual é bem confuso, Cage fala com IAs que se passam pelos personagens, menciona os equipamentos, nome de empresas. Mas, nada que uma leitura bem atenta não dê conta de entender e se entreter!

Reli pela terceira vez em 2024, e algo que descubro a cada releitura é que esse livro tem muitas camadas e vamos descobrindo novos ângulos para compreender a história. Vale a pena ler, reler e revisitar esse universo.

Como eu disse antes, quem gosta de ficção científica, universo cyberpunk, Matrix, inteligência artificial, vai gostar muito desse livro. Pra mim ele é perfeito. 

E tem a edição nova da Editora Aleph. Um à parte nessa história. Os livros da trilogia são lindos, tamanho ideal, páginas amarelas, cheio de tinta cheirosa (vício). Além da edição especial de 30 anos, que tem a lombada com a costura exposta, uma obra de arte. Deixei as imagens abaixo pra vocês condferirem.




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