quinta-feira, fevereiro 16, 2023

Resenha | Eu sou a lenda, de Richard Metheson

"Esqueça o filme, leia o livro" se encaixa perfeitamente para "Eu sou a lenda", de Richard Metheson. Coincidência ou não, o filme é estrelado pelo Will Smith, mesmo caso de “Eu, robô”, de Isaac Asimov, sobre o qual já falei aqui em outra oportunidade.




Para a turma do “deixa disso, não se compara, são mídias, formatos diferentes, adaptações têm suas ressalvas’… É! Mas esta é a minha opinião sobre a história que foi desconstruída no filme, que é o que a maioria conhece e, como ele é meio bosta, acaba desmotivando as pessoas a lerem o livro. 


O que eu quero nesse post é que você, tendo gostado ou não do filme, esqueça ele e vá ler o livro, porque é uma obra impressionante.



Breve sinopse de “Eu sou a lenda”, de Richard Metheson


Robert, é o último humano, estadunidense, num mundo pós apocalíptico misterioso (não é “bem” sobre zumbis! Aliás, como a maioria das estórias de zumbis.), em que humanos foram dizimados por uma doença que parece ter vindo com tempestades de areia.



Resenha de “Eu sou a lenda”


Como toda narrativa bem construída, "Eu sou a lenda" abre margem para diferentes interpretações e isso foi uma das coisas que me fez amar essa leitura.


Sozinho, Robert tenta manter a sua humanidade. A gente sabe, ainda mais pós pandemia, como estar isolado por tanto tempo pode ser prejudicial para os seres humanos. Mas, será que essa história é sobre o isolamento e solidão?


Nos extras dessa edição (que recomendo muito), uma das especulações feitas é a de que o livro discute a segregação racial, sendo Robert o último branco. Faz sentido nos EUA dos anos 1950. Só que esse período tem um inimigo mais forte, o comunismo. 👀


A guerra fria, a Rússia, me parece uma influência de medo muito maior no autor, que chega a citar a bomba atômica como possível causa da praga. Nos pós créditos dessa edição da Aleph, há uma comparação entre os “seres infectados” e uma possível “invasão” de pessoas negras nos Estados Unidos, marcando o racismo daqueles tempos. 



Teorias que fervilharam na minha mente com essa leitura


Faz sentido, mas eu fiquei com outras ideias enquanto lia. E essa é a beleza de um bom livro, ele pode ser ressignificado a qualquer tempo, por qualquer leitora. Pensa comigo: uma análise dessa obra nos dias de hoje, por uma não estadunidense, quem sabe mais sensata?, não poderia ver o quadro desse outro ângulo:


“Eu sou a lenda” como metáfora para o avanço do capitalismo, a devastação do mundo, o ser humano escravo de um vírus que o torna uma ameaça aos demais da própria espécie. Devorando uns aos outros até se conformar numa forma social violenta que exclui os diferentes? Numa luta cruel e inescrupulosa contra os que tentam resistir a sua hegemonia? Morte aos comunistas!


De onde tirei isso? Isolado, Robert pode representar aqueles que não concordam com essa nova forma de vida. O último daqueles que não se encaixa. O fio de esperança contra essa praga que acaba com o planeta e precisa ser exterminado. Ainda mais se considerarmos o final, que não vou entregar, é claro.


É claro que essa interpretação também pode ser exatamente o contrário, mas eu gosto mais da que eu inventei! Rhá!


Para além dessas viagens, como todo bom Sci-fi, "Eu sou a lenda" tem camadas bem desenvolvidas, com ação, drama e uma discussão forte e muito boa sobre "ser humano" e a solidão. Sim, o livro aborda muito bem essa questão e dá aquele sofrimento bom que alguns leitores tanto buscam.


PS: Esqueça a cena do cachorro do filme! No livro tem um cachorro, mas a situação é muito mais terrível para o humano, não é daquele jeito tosco da adaptação.


Enfim… recomendo demais essa leitura para quem gosta de uma história que faz refletir e entrete.





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