sexta-feira, abril 21, 2017

Doctor Who: O 3º Doutor da Série Clássica

Faz alguns dias que terminei de assistir os episódios do 3º Doutor na sequência da série clássica, e aqui estou para fazer alguns comentários sobre essa fase da minha série favorita.




A chegada do novo Doctor

Jon Pertwee chegou na série de uma forma bem atípica para Whovians que acompanham a série moderna e sabem que o Doutor se regenera. Como anunciei no post sobre o Segundo Doutor, ele passa um julgamento, acusado de bagunçar irresponsalvelmente o tempo, e foi penalizado pelo conselho dos Senhores do Tempo com uma regeneração forçada, uma espécie de exílio na Terra (sua TARDIS foi modificada para não funciona mais) e, o que é pior, seus companions foram levados de volta para as suas linhas temporais, antes de conhecer o Doutor (esquecendo tudo o que viveram, que triste).

Então o Terceiro Doutor "cai na Terra" com aquela confusão normal pós regeneração, sem amigos, sem coisa nenhuma. "Por sorte" (aspas significando ironia, não existem coincidências em Doctow Who) ele vai parar na Terra justamente na Inglaterra, onde está havendo uma tentativa de invasão alienígena, onde a UNIT faz uma investigação.

Ele é encontrado desacordado e levado para um hospital onde as confusões fisiológicas começam. Os médicos se assustam com o sistema diferente, principalmente quando detectam dois coração no homem. Assim, um informante da UNIT contata o Brigadeiro Lethbridge-Stewart (amigo de Doctor de outros eventos), e este corre ao hospital para verificar a informação.

Neste meio tempo o Doutor foge (ele sempre acorda confuso), e até que o Brigadeiro Lethbridge-Stewart o encontra e entende que se trata do mesmo Doutor, passa aí um bom tempo do arco (episódio dividido em 4 ou 6 partes - estilo de apresentação da série clássica). Quando resolvem o caso da invasão, tudo já está explicado e o Doctor, preso na Terra, aceita trabalhar com a UNIT, numa divisão especial, como "consultor científico".


Os Arcos do 3º Doutor

De início eu só queria passar logo essa fase, não curtia muito esses episódios com problemas da Terra. Gosto mais das histórias fantásticas da série. Mas, tenho que admitir que alguns roteiros foram mesmo muito bons. Teve invasão alienígena, teve universo paralelo, e até algumas viagens ao espaço. Sim, porque quando convém para os Senhores do Tempo, eles enviam o Doutor pra resolver umas tretas em outras galáxias,

Foram nos arcos do 3º Doutor aliás que conhecemos o Mestre, o arquirrival do Doutor. Um outro Senhor do Tempo que foge de Gallifrey, mas pura e simplesmente para bagunçar o universo e tirar proveito da sua condição, e não para se divertir e ajudar as pessoas como o personagem principal da série, O Doctor Who.

Foi também nas temporadas do 3º Doutor que vimos o primeiro encontro de Doutores, um dos episódios que mais aguardei. Isso porque nele teve a participação do Segundo e do Primeiro, sim!! O Velhinho William Hartnell fez a sua participação. Infelizmente ele não esteve atuando fisicamente com os outros dois, mas falando com eles pelo vídeo. A situação foi explicada por uma tempestade na zona temporal ou whatever.

Mas, Patrick Troughton esteve presente e deu show! Foi muito legal ver os dois juntos, analisando o modo de vestir um do outro, as diferenças de estilo e físicas, assim como a decoração da TARDIS (que muda a cada regeneração para "acompanhar" a mudança do Doutor). Vê-los trabalhando juntos, com suas manias e rabugices, somada à confusão do Brigadeiro Lethbridge-Stewart foi hilário. Deu pra matar as saudades do Segundo Doutor e gostar ainda mais do Terceiro.


E o 3º Doutor da Série Clássica marca época!

Uma das novidades da série foi a transição das imagens preto e branco para em cores. Foi onde vimos a TARDIS pela primeira vez na sua cor azul, que antes só sabíamos por ouvir falar. Sem recons (episódios em áudio montados com fotos) ou episódios perdidos, o período do Terceiro Doutor veio completo, e não demora muito para ele nos cativar.

Ao contrário do que eu imaginei, não foi chato acompanhar as aventuras do novo Doutor na Terra. O personagem é louco, rabugento e bem humorado. Um pouco arrogante, mas com aquele carisma tradicional de Doctor Who que nos faz esquecer e/ou amar o personagem. As farpas entre ele e o Brigadeiro ficam mais acentuadas pela convivência, mostrando um clima de muita amizade entre os dois, o que fica nítido quando a TARDIS volta a operar normalmente e o oficial da UNIT demonstra sua preocupação de que o Doctor parta e não volte mais.


E chega a hora do adeus para o 3º Doutor

Quando foi me aproximando do fim, fiquei um pouco empolgada por finalmente poder assistir ao quarto Doutor, que é o queridinho da maioria dos Whovians. Mas, fiquei também um pouco sentida, por ter que dizer adeus a esse Doutor brilhante interpretado por Jon Pertwee.

O fim se dá em um episódio em que ARANHAS querem invadir a Terra. Ora! Nada poderia ser pior para uma pessoa que sofre de aracnofobia (no caso, eu) do que um fim trágico como esse. Mas, por sorte a tecnologia estava bem ruim (ainda) no Terceiro Doutor e as aranhas sequer pareciam com aranhas (hahaha). E o Doutor se despede de uma forma heroica e muito nobre, tentando evitar inclusive a morte da espécie aracnídea.

A regeneração aconteceu, mas né? Aquela decepção, nada parecida com as da atualidade, em que as pessoas têm que sair de perto, e fogo saltando para todos os lados. Ele simplesmente muda de corpo em frente à Sara Jane Smith e o Brigadeiro Lethbridge-Stewart. Assim, o seu período de volta à realidade fica facilitado, ele está dentro do prédio da UNIT e recebe de pronto o atendimento para ficar em segurança.

Ou quase! O próximo Doutor é louco, esquisito e já chega fazendo maluquices. Assisti dois arcos e ainda estou no período de estranhamento. Não sei se ele vai ser para mim o melhor de todos, mas engraçado ele é, isso não tem como negar.


Sobre a loucura que é acompanhar Doctor Who

Aproveito o momento de transição para comentar sobre o livro "12 Doutores 12 Histórias" que comecei a ler essa semana. Já passei pelos 4 primeiros capítulos, e estou lento o quinto Doutor. Totalmente estranho para mim. Primeiro contato sem qualquer informação é no mínimo estranho.

E ao mesmo tempo, na semana passada a série moderna voltou, com a 10ª temporada, e já prometendo ser a última do Peter Capaldi, 12º Doutor. A tristeza de perder um excelente Doutor veio junto com a estreia.

Para consolar, ele ganha uma nova companion e ela é tudo que nós fãs sempre sonhamos: apaixonada por SyFy e muito ciente de que está diante de algo extraordinário (leia mais sobre ela nesse post do Doctor Who Brasil). A Bill, interpretada pela atriz Pearl Mackie, é jovem, trabalha na cantina da faculdade, é lésbica, negra, gente como a gente. E me fez lembrar a Rose, ou a Donna, minhas companions favoritas.

E, o que é melhor, o Doutor está trabalhando na universidade, tem uma sala, onde ele guarda a TARDIS, e por ser um espaço dele, fixo, está finamente decorado, cheio de referências da série clássica. Isso é fantástico! Nunca vi tantas referências juntas em um episódio. E, aparentemente, esse vai ser o tom dessa temporada de despedida, que vai ter os primeiros Cyberman, Mondas (que por sinal foram os responsáveis pela primeira regeneração do Doutor), Ice Warriors, e já falam de uma possível participação do 1º Doutor (acharam um ator muito parecido com ele).

Resumindo: é uma fase muito boa fãs de Doctor Who (whovians)! E toda essa confusão pode ser acompanhada em qualquer tempo. Vocês já viram uma série capaz de se reinventar dessa forma, sem perder as origens, e que permite as pessoas embarcarem em qualquer ponto? Eu nunca. Por isso gosto mais a cada dia!

E é isso por hoje! Pra deixar uma amostra do que está passando agora na TV, para quem sabe te motivar a começar, deixo o trailer dessa 10ª temporada!



=P

sexta-feira, abril 14, 2017

Agora tenho parceria com editora. Obrigada, EL!

Hoje não tem resenha, tem uma novidade: acabo de conseguir a primeira parceria com uma editora! A Editora Essência Literária abriu recentemente um programa de parcerias para blogueiros, vloggers e instagrammers.

Esse post serve para firmar a parceria (por enquanto, temporária) e também para anunciar a novidade, inédita para o Sabe o que é? que, embora exista desde 2004, nunca teve esse foco. Mas, com a criação do Instagram, achei legal dar esse upgrade, para contribuir com a literatura e interesse pelos livros e também para oferecer mais conteúdo de qualidade.



Sobre a Editora Essência Literária

A EL é nova, não encontrei o tempo, mas nota-se pela quantidade de livros e autores, que ainda é pequena. Quando li o "Quem somos" da empresa, a primeira frase já me cativou "A paixão por livros a ligou (...)". Tudo que é feito com paixão tem muita chance de dar certo se encarado com profissionalismo.

A missão da EL é fortalecer a literatura nacional e revelar novos talentos. Ora! Isso é realmente necessário num país em que é tão difícil conseguir espaço entre os autores estrangeiros, ou mesmo os brasileiros "da vez". E tem tanta gente talentosa por aí escrevendo coisas ótimas.

Outro ponto positivo que me fez simpatizar ainda mais com a Editora Essência Literária é que a equipe é quase toda formada por mulheres, exceto pelo Designer, Ícaro Trindade (autor de livros e contos LGBT - Amei!). Aparentemente uma equipe descolada e diversa.

Teria como ser melhor? Sim, tem! 

Os títulos com os quais eles trabalham são ótimos. Ao ler a sinopse fiquei com vontade de ler todos, até o romance romântico que não é muito a minha praia, parece muito bom.

O lançamento em destaque no site foi o que mais me interessou: "O próximo rei", de Sávio Batista. Uma história de fantasia, terror e aventura. Vê se não é a minha cara? Pra ser melhor, só se envolvesse viagem no tempo e espaço.


Confere a sinopse:

Dois bons amigos são escolhidos pelo destino para serem homens a serviço do rei, servir e evoluir como guerreiros do reino para banir foras da lei e exércitos rivais.

Um lugar onde a lógica não está presente, onde habilidades especiais definem quem pode prosseguir e crescer, fortalecer e até se tornar um novo rei.

Após conseguirem seus elmos mágicos, Gabriel e seu melhor amigo, com um apelido incomum, Cala a Boca, partem para uma terrível jornada: procurar o Rei Fraco para conseguir o merecido respeito e, assim, o posto de cavaleiro real. Durante a aventura conseguem novos companheiros e conhecem pessoas estranhas, monstros, guardiões e um “Outro Mundo”. Para garotos de uma vila pequena e pacata, ver-se num mundo de aventuras e terrores é um novo desafio a cada dia.

Um caminho de angústia e medo espera nossos heróis, fracassos e dúvidas que fariam qualquer um gelar o sangue. Algo que nunca sairá da memória, uma garota que gosta de plantas, outra que gosta de animais, um mentiroso, uma verdade que volta.

Cheio de aventuras, em meio a piadas, sustos e batalhas colossais, um futuro incerto e fantástico aguardam os dois amigos nesta viagem.

E repara a capa desse livro, que demais. Já quero ele aqui, enfeitando a minha estante! O próximo Rei também está disponível em ebook, mas EL, quero o livro físico, única coisa que peço! :P

Pra comprar, Clique aqui

O livro físico está por R$24,90 e o ebook R$ 9,90.



Bem, esse post era só pra comunicar esse feito do Sabe o que é? nessa nova fase (pra quem tá perdido, leia o post "Como consegui 1000 seguidores no Instagram em 30 dias") e agradecer a EL pela oportunidade.

Quem quiser se inscrever tem até o dia 17/04/2017 pra fazer isso. Clique aqui e leia o edital e acesse o formulário de inscrição.

=P

quarta-feira, abril 12, 2017

Resenha: Lá vem todo mundo, por Clay Shirky

E eis que, quase duas semanas sem postar eu volto, com a prometida resenha de "Lá vem todo mundo" de Clay Shirky. No post anterior (acesse aqui) eu terminei o texto falando da minha expectativa sobre o livro, já que o post falava de desempenho no Instagram, e o título deste livro é bastante promissor.

Acontece que existe um subtítulo "O poder de organizar sem organizações", que diz bastante sobre o que será tratado na obra: grupos de pessoas. Não foi uma decepção, e muito menos uma perda de tempo. Só uma mudança de perspectiva.

E uma pergunta que o livro não entrega: "Como surgem tendências e opiniões?" feita por Chris Anderson (aquele mesmo, de "A cauda longa"), e que aparece impressa na capa para despertar a curiosidade de quem se interessa pelo assunto. Talvez Clay Shirky conte "como" em algum momento, mas não nesse livro - não exatamente.

O livro é extenso e vou tentar resumir "um pouco" algumas passagens, porque acredito que são bem úteis ou convenientes para quem se interessar pelo título e vir parar nesse post.




Resenha: Lá vem todo mundo, por Clay Shirky


Os primeiros capítulos são dedicados a exemplificar, quase desenhar (e isso é um ponto muito positivo - e também negativo - desse autor), como as novas tecnologias de comunicação via internet (e seu suporte no hardware) estão transformando as relações sociais ao facilitar a reunião de pessoas em torno de uma causa - seja ela qual for. Ele lista uma série de casos em que as pessoas se organizaram para resolver um problema, mover uma ação, ou se divertir.

Ele explica que sobre a questão social/antropológica dos seres humanos, sobre sermos sociáveis e de termos essa predisposição a nos agruparmos. E o quanto a tecnologia facilitou isso, motivo pelo qual isso hoje acontece mais do que nunca. Ou seja, as tecnologias não transformaram o comportamento, apenas foi conveniente para que um desejo humano se tornasse real.

No livro são apresentadas uma série de teorias que "regem" o modo como essas relações e agrupamentos vão acontecendo, porque não era possível antes, porque não pode ser "replicada" em organizações/instituições/corporações. Em uma organização, o tempo tem custo, é preciso pessoas para supervisionar custos, e quanto maior for o grupo, mais pessoas são necessárias inviabilizando todo o processo.

Simplificando, o motivo são os custos de gerenciamento. Uma organização de pessoas geradas espontaneamente é auto-regulada pelas pessoas para que o grupo se mantenha; o capital social está no meio dessa fórmula - e é a partir daqui que a leitura fica densa e parece difícil. Mas, Shirky tem um estilo de escrita que não nos deixa desistir. Cara cada teoria há um exemplo, e esses exemplos são contados de forma romanceada. São histórias reais, contadas de uma forma muito prática, dá pra entender tudo.

Uma constatação antiga, mas bem atual para o período em que o livro foi escrito é que "cada pessoa é um veículo de comunicação" no momento em que qualquer um pode publicar o que quiser na internet com livre acesso de qualquer um. Aqui entra uma discussão que me fez voltar no tempo, diretamente para as aulas de teorias da comunicação (só que bem mais legal).

A comunicação nos tempos de ouro das mídias de massa, como TV, rádio e jornal, funcionavam (e Shirky mostra que nada mudou) no sistema "um para muitos". A internet e a facilidade de publicação online muda isso para um sistema "todos para todos" (qualquer um pode publicar o que quiser na internet com livre acesso de qualquer um).

E até essa máxima ele consegue derrubar quando mostra o paradoxo: quanto mais popular fica um blog ou uma pessoa, menos ela vai conseguir se comunicar com todos, transformando essa comunicação em "todos para um", ainda que com algumas ressalvas. Então o livro é todo assim, mostra como é, como era e como se transforma, e como isso volta em ciclos mudando, dia a dia, o modo como a sociedade se comunica. (É muito bom ler sobre isso).


E chegamos ao "publique depois filtre"


Essa é uma teoria "constante" no texto. A facilidade de publicação online, o aumento de pessoas conectadas e potenciais "publicadores" e a dificuldade de se filtrar o que presta ou não nesse meio. O autor me mostrou uma perspectiva interessante sobre as conversações que eu julgo "desnecessárias", tais como as piadinhas internas contadas publicamente, fotos do dia a dia, e assuntos pessoais que pouco importam para quem não tem intimidade com o interlocutor.

Justamente! Clay Shirky explica que elas pouco nos interessam porque não são para nós mesmo. Ele faz uma analogia muito boa, comparando o meio digital com a praça de alimentação de shopping center. Pense: um grupo de jovens sentados na mesa ao lado estarão falando sobre a festa de ontem, você vai ouvir o que eles falam, mas eles não estarão falando com você. Sem mais! É isso.

Outro tópico bem interessante é sobre a "produção colaborativa". Shirky explica que ela parte de uma motivação pessoal. A facilidade de encontrar outras pessoas com os mesmos interesses faz surgir rapidamente um grupo que estabelece normas e começa a construir algo.

O exemplo desse fenômeno não poderia ser outro se não a Wikipedia. Ele conta como ela surgiu e como se transformou no que é hoje, porque quase não sofre ataques, crescendo a cada dia, recebendo muitas pessoas que colaboram pouco, e poucas pessoas que colaboram muito. Outro exemplo citado foi a criação do Linux. É simples, quando se lê assim, de um pesquisador tão experiente e com talento para contar a história!



Ações coletivas e desafios institucionais  


Em determinado momento o autor fala de como escândalos na igreja católica tiveram repercussão forçada por um grupo de pessoas, de modo que estes não puderam ser abafados. Na medida em que as pessoas ficavam sabendo do assunto (velocidade de compartilhamento), mais denúncias surgiram, grupos se formaram pressionando, a imprensa não podia mais conter e evitar de cobrir o caso. E providências tiveram que ser tomadas.

Enquanto lia esse capítulo ouvi falar de escândalos na principal emissora de televisão brasileira. Primeiro uma denúncia de assédio, que foi publicizado pela vítima, recebeu apoio de outras pessoas que se identificaram com a causa, e quando menos se esperou - a acusado do assédio estava afastado e a emissora se pronunciando sobre o fato.

Poucos dias depois, pessoas que assistiam um reality show nessa mesma emissora se revoltaram com a agressão de um dos participantes a sua "colega" de programa. Neste caso, o fato público começou a ser discutido nas redes sociais, onde muitos grupos feministas já se reúnem há algum tempo, e a pressão foi tanta que resultou em numa denúncia formal de agressão e a expulsão do participante que - dizem - foi levado pela delegacia da mulher que estava lá para acompanhar a sua saída. Novamente a emissora teve que "cobrir" esse fiasco para acalmar os ânimos.

Como se não bastassem os exemplos no livro, a vida real estava ali me mostrando o que o autor tão bem explicava no livro. Achei isso sensacional! No livro Clay Shirky explica porque isso acontece tão fortemente com o advento das tecnologias e das redes sociais online. Novamente: o custo. É muito fácil e barato encaminhar, compartilhar, um pouco menos é postar, produzir um texto, mas alguns fazem e, dado esse primeiro passo, basta que outras pessoas tenham acesso ao material, identifiquem-se com a causa, para contribuir para que este atinja um número ainda maior de pessoas.

O lado negativo disso é que todos já percebemos isso, e muitas vezes esse volume de apoiadores online não é levado muito a sério. Não tanto quanto seria uma carta escrita a mão, ou a reunião, a mobilização, de pessoas antes de termos acesso a essa facilidade de agrupar pessoas com interesses semelhantes. Ele fala de como a "chuva de emails" para políticos não surtem qualquer efeito hoje em dia. E eu lembrei de pessoas que passam os emails dos políticos para que enviemos nossa indignação sobre qualquer coisa que estejam votando, como forma de pressioná-los. Nunca acreditei, agora vejo que nem deveria mesmo.

 Alguns grupos mencionados no livro usaram uma estratégia diferente, como o envio de alguma coisa que custasse um pouco de dinheiro, para passar uma mensagem equivalente a carta que era enviada antigamente. Alguns enviaram flores, outros amendoins, para chamar a atenção e pressionar uma instituição a mudar sua conduta. Mostrar que gastaram dinheiro, segundo Shirky, é uma forma de provar o quanto se importam.



Voltando aos desafios institucionais


O autor fala da impossibilidade de uma organização aceitar o custo de um fracasso, motivo pelo qual ela acaba tendo que fazer uma escolha que a deixa pouco eficaz quando o assunto é inovar. (Nestes capítulos vi meu TCC passando diante dos meus olhos!)

Shirky explicou antes a teoria de potência, de rede e outras que preferi não escrever aqui (afinal tem que sobrar alguma coisa para vocês lerem no livro!). Mas, o que se prevê é que existe uma quantidade muito maior de pessoas que têm uma grande ideia (na vida), do que pessoas que têm muitas boas ideias o tempo todo. Outras têm mais perfil para começar, outras de corrigir, dar sequência a um trabalho e assim por diante.

Esse contexto explica porque a Wikipédia e o Linux deram tão certo, enquanto a Microsoft, por exemplo, pena para fazer um software tão bom quanto (minha opinião) ou de outras empresas de conseguirem inovar. Uma organização precisa escolher um número limitado, de preferência que tenha todos os skils, o que é impossível. E assim, ela perde a organicidade que um projeto compartilhado tem.

Um projeto colaborativo que não dá certo não muda nada na vida daqueles que contribuíram nele, não há salários nem obrigações envolvidas. Diferente de uma empresa que precisa pagar pelo tempo das pessoas e precisa ter lucro para isso.


Análise geral sobre "Lá vem todo mundo"


O livro é longo, por vezes cansa (principalmente quando se tem um livro de Doctor Who esperando para ser lido), mas é muito útil e bem escrito. Quem é da comunicação, trabalha com comunicação digital, social media, gestão de redes sociais, se interessa pelas transformações sociais. É um livro necessário.

Clay Shirky abrange tanta coisa, que em determinado momento e ele fala da criação da imprensa, dos monges que escreviam os livros à mão, da transformação do trabalho. Fala inclusive de como a tecnologia liberta o trabalhador, dando-lhe mais tempo para ocupar-se com outras coisas. Então, é uma leitura rica, ampla sem ser raso (como se vê em muitos livros por aí).

Então recomendo, para quem realmente se interessa e gosta do tema (claro).

=P

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